Blog Celito Meier

Da tolerância ao amor

Por Celito Meier em 15/01/2021


 

Uma das
maiores tentações de nossa vida relacional e intersubjetiva consiste em
querermos moldar o outro à luz de nossas expectativas e desejos. Ao proceder
assim, o outro fica reduzido a um objeto de nossa satisfação, perdendo o
exercício de sua individualidade. Ao agirmos desse modo, torna-se muito comum permanecermos
no primeiro nível da vida relacional: o nível da tolerância.

 

Na mera
tolerância, que é uma pequena virtude, necessária no caminho para o autêntico
amor, revelamos que o nosso amor ainda não amadureceu. Tolerar o outro passa a
ser expressão de um amor pequeno, que ainda não reconhece a positividade da
diferença. Essa atitude aproxima-se muito mais do “suportai-vos uns aos
outros”. O outro é reduzido a um estranho que devo aceitar.

 

Na
medida em que amadurecemos um pouco mais, caminharemos da tolerância ao
respeito à diferença, reconhecendo o direito à diferença.  Mas, mesmo esse respeito ainda não é a expressão
ideal do genuíno amor, pois pode nos deixar ainda na passividade, no
distanciamento, na ausência de engajamento com o outro. Afinal, é possível
respeitar o outro sem se envolver com ele, sem assumir sua causa, sem lutar por
ele.

 

Ao
amadurecermos no amor, transformamos o que em principio era tolerância, e que
passou a ser respeito, em amor à diferença. Neste estágio mais evoluído do
amor, não somente respeitamos a diferença; mas, amamos a diferença,
cultivando-a e promovendo-a. Nesse terceiro e mais evoluído nível de
humanidade, passa a existir um compromisso com a mútua destinação, uma atitude
de envolvimento e engajamento recíprocos.

 

É
preciso reconhecer que, nesse compromisso com a emancipação da pessoa amada, a
diferença que une o casal requer cultivo de sua singularidade. Essa ideia vem
muito bem expressa na afirmativa poética e metafórica de Khalil Gibran: “os
pilares do templo ficam afastados. E o carvalho e o cipreste não crescem à
sombra um do outro”.

 

Quantas
vezes ouvimos a expressão: “Agora, vocês são uma só carne”. Historicamente,
tornavam-se a carne do marido. Ora, Cipreste e Carvalho não crescem à sombra um
do outro. Duas são as individualidades que necessitam se respeitar, acolher-se
e alimentar-se mutuamente. Vale a pena lembrar que a harmonia se torna possível
somente onde a diferença existe.

 

Podemos
recorrer ao fenômeno da música, para bem entender essa ideia. Diferentes
instrumentos e partituras se juntam para a harmonia musical. Na partitura a ser
executada, existem fermatas e pausas programadas, intervalos, sinais de aumento
ou diminuição. Da mesma forma, na vida a dois é preciso que exista o tempo e o
espaço para que as singularidades possam ser reveladas e cultivadas.

 

A você
desejo uma evolução espiritual, da tolerância ao amor.

 

Afetuosamente

 







































Celito Meier

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